Sobre os 30 mártires brasileiros canonizados
Por: Daniel Ribeiro
Em 1630, interessados em assegurar o seu controle sobre o interior do
Nordeste recém-ocupado, os holandeses calvinistas firmam alianças com
os indígenas tapuias, no intuito de encontrar aliados em número e força
para manter seu domínio na região. No ano seguinte, o índio
‘Marciliano’, fugitivo dos acampamentos portugueses, dirige-se ao
Conselho Político da Companhia das Índias Ocidentais, informando que
seus companheiros estavam desejosos de uma aliança com os invasores.
Em 1637 o judeu-alemão Jacob Rabbi – proveniente de Waldeck, Hesse –
chega ao Brasil, e, a pedido do Conde Maurício de Nassau, dirige-se ao
interior da Capitania do Rio Grande, onde passa quatro anos junto aos
tapuias janduís. Além dos tapuias, acompanham-no alguns potiguares e
soldados holandeses. Além de servir de intérprete dos janduís para os
holandeses, sua permanência entre os índios consolida as bases da
aliança política holandesa-tapuia. Tendo assimilado muitos dos costumes
indígenas, Rabbi torna-se um verdadeiro líder do grupo, ao mesmo tempo
em que representa diplomaticamente o governo holandês.
Segundo o
historiador Câmara Cascudo, Rabbi era violento e astuto, cruel e sem
escrúpulo, saqueador e mandante de assassinatos: a figura mais sinistra e
repelente do domínio holandês no Nordeste brasileiro, denegrida e
acusada por todos os historiadores do seu tempo. Não a esmo os fatos a
seguir comprovam-no.
A 16 de julho de 1645, como de costume, os
fieis reuniam-se para celebrar a Eucaristia na Santa Missa dominical, na
Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho de Cunhaú, em
Canguaretama. Jacob Rabbi havia fixado um edital na porta da igreja no
qual constava que após a celebração, haveria “ordens do governo
holandês”. O pároco, Padre André de Soveral, responsável pela
catequização e disseminação do catolicismo na região, começa a Missa e,
após o momento da elevação do Corpo e Sangue de Cristo, as portas da
capela são fechadas. Dá-se início uma vingança dos nativos contra os 70
fieis católicos que ali estavam presentes. Ao verem que seriam mortos
pelas tropas, os colonos pedem misericórdia a Jesus, enquanto o Padre
André tinha seu coração arrancado do peito pelos insanos invasores.
Segundo cronistas, logo após o primeiro massacre, o medo se espalhou
pela Capitanias adjacentes, não sem razão. A 03 de Outubro acontecia
outro massacre impiedoso, desta vez em Uruaçu, São Gonçalo do Amarante.
Também a mando de Jacob Rabbi, e regado a requintes de crueldade ainda
maiores, os quais dispensam comentários, foram mortos 80 fieis
católicos.
Em 1698, com os holandeses já afastados, começam a
chegar ao povoado exploradores vindos de Pernambuco. Em 1710 os
portugueses Ambrósio Miguel de Sirinhaém e Pascoal Gomes de Lima
instalam suas famílias nas proximidades do rio Potengi. Esses
portugueses constroem dois sobrados e uma capela em homenagem a São
Gonçalo do Amarante, com a imagem do santo padroeiro esculpida em pedra e
colocada imponentemente no altar e fundam a cidade homônima.
O massacre holandês é narrado em detalhes em uma carta de Lopo Curado Garro.
Os 30 mártires brasileiros canonizados hoje haviam sido beatificados
por João Paulo II, em 5 de março de 2000. Em 23 de março de 2017 o Papa
Francisco autorizou a canonização.
Tal como exclamou Mateus Moreira, o mártir camponês, preste a morrer, exclamemos nós:
"Louvado seja o Santíssimo Sacramento"!
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